Voltamos agora com mais um da seção que mostra as joias que nossos leitores possuem! Abaixo, as fotos, e em seguida, com a palavra o dono do carro!
Adesivo "Fahrvergnügen", ou "prazer em dirigir", em alemão
Interior original imaculado
"Matheus, aqui é o Roberto Ceconello. Comento de vez em quando no blog e fiquei de mandar umas fotos e a história do meu Fusca 96 pra você.
Grande abraço e sucesso sempre!!!
Quando fiz 18 anos, ganhei um 96, marrom metálico (se não me engano, o nome técnico é Bege Urano) do meu pai. 5.000 Km rodados, era de um senhorinha de São Pedro, cliente dele no banco onde ele trabalhava.
- Esse é o primeiro carro de todo homem! – disse ele.
Era moleque, queria um Palio, Corsa, Gol… aos 18 não tinha muito cérebro, assumo hoje em dia. Fiquei feliz, mas não tanto quanto teria ficado com qualquer um dos descartáveis citados acima. Apesar disso, primeiro carro, primeira experiências, primeiras viagens. Andávamos de skate. Punk Rock no toca-fitas (com hífen?) Pioneer. E ele sempre junto: firme, forte e barulhento… e uma história que jamais esqueci: me apaixonei por uma menina. Ela não por mim. E ter um Fusca não ajudou muito nisso. Fiquei sabendo. Quase 2 anos depois de ter ganho o Fusca, depois de rodar 17 mil Km, o vendi. Para um senhor de minha cidade, que o deu de presente a sua esposa. R$2.000,00 acima da tabela da época.
- Negocião, hein? – pensei comigo.
Comprei um Palio.
A vida passava. Saía de casa para o trabalho e sempre o via paradinho em um parque da cidade, onde o senhor e sua esposa iam caminhar. E o Meteoro lá, lindo. Por anos o encontrei lá, cedinho. Sempre o acompanhava quando o via passar.
Namorei outras garotas, comprei outros carros. Uma Corsa Picape. Um Ka. Passei num concurso público. Um Celta. Um 206 (Deus me proteja disso). Fali. Me recuperei. Um Corsa. Fui a Lindóia e tomei uma decisão. Viajei muito com o Corsa, 2009, Maxx. Fui pra 3 estados. Rock in Rio. Mais viagens. Conheci minha futura esposa. Roubaram o Corsa. Um Agile (desculpem, mas tenho amor por ele também).
Ali acima disse que tomei uma decisão em Lindóia. 2008. Vi um Fusca 96 lá. Lindo. O dono pedindo o que vale pra ele. Assustei. Mas…
- Vou comprar meu Fusca de volta! Fui para a Bahia e, conversando com um amigo que tem alguns clássicos, decidi que quando voltasse ia procurar o senhor que estava com o Meteoro.
Novembro de 2012. Depois de caçar o telefone do atual proprietário por lista telefônicas, agendas antigas de casa, um amigo que namorou a filha dele na época me passou o número.
- Sêo Avelino, aqui é o Roberto. Quero meu primeiro carro de volta. Quanto o senhor quer?
- Não vendo!
- Vende sim! Foi meu primeiro carro, tenho memórias imensas dele e com ele e fiz a maior besteira do mundo em vendê-lo. Não sei o estado atual e não interessa, mas quero comprá-lo mesmo assim!
- Vou pensar no seu caso, ok?
- Anota meu telefone. Me liga quando?
- 3 semanas.
Passaram-se as 3 semanas e ele me ligou. Gelei…
- Roberto, quero R$10.000,00 no Fusca.
- Passa sábado em casa, quero ver se ele tá bem.
Acordei 7 da manhã no sábado. Quer dizer, 5:30h eu já estava acordado, mas fingi até as 7 para não acordar a namorada. 9 da manhã toca o interfone e lá está ele! Claro, com algumas marcas do tempo, são 16 anos de uso.
- Sêo Avelino, tá legal o carro, mas vou gastar para deixá-lo 100%. Me dê algumas semanas que eu te ligo e falo quanto posso dar pro senhor, ok?
- Quero R$10.000,00. Vou comprar um carro zero para minha esposa.
Fiquei feliz quando ouvi isso. Por ela e por muito mais por mim… hehehehe. Demorei algumas semanas e ele me ligou:
- Ô, Roberto, quer comprar o carro ou não?
- Ô, Sêo Avelino… quero, mas não posso pagar o que o senhor pede…
- Quanto você pode?
- Olha, pelos custos que vou ter, R$6.000,00.
- Ah, não dá… R$9.000,00 e pode vir buscá-lo.
- Não tenho isso, infelizmente.
- Então fica pra um próxima. Obrigado mesmo assim.
Desliguei e fiquei triste. Pra falar a verdade, bem triste. 3 semanas… Achei que ele já tinha vendido, ia comprar um zerinho pra esposa dele, né… Resolvi que ia investir o dinheiro em um carro novo. Já tinha até escolhido e ia ver o “New alguma coisa” no fim de semana. Na sexta, jantando na casa de minha namorada, toca o celular:
- Ô, Roberto, ainda quer comprar o Fusca?
- Ô, Sêo Avelino! Claro que quero!!
- Olha, vou fazer o seguinte para você que gosta dele: R$7.500,00 e pode vir pegar!
- Sêo Avelino, seguinte: ele fez você e sua esposa felizes por 14 anos. Em 98 o senhor pagou R$7.000,00 nele. E estou devolvendo o mesmo dinheiro pro senhor. R$7.000,00.
- Tá bom, vá… vem pegar.
Hoje, ao lado do Agile em minha garagem, está o Meteoro!
Quinta vai fazer uma revisão completa em motor e suspensão. Regulagens e algumas pecinhas. Só disso que ele precisa. O resto tá igual a 98. Com quase 100 mil km a mais, mas inteiro e firme. Barulhento. Com aquele cheiro de Fusca, delicioso! Meu de novo! E daqui NUNCA MAIS ele vai sair!
Um dia, passeando com minha namorada no Meteoro, alguém vai me ver muito feliz.
Certas coisas têm que acontecer.
Ao seu tempo."
É ou não é emocionante, a história? Penso igual e costumo dizer o mesmo: o que tem de acontecer, acontecerá! É essa, a magia do universo do carro antigo! Parabéns, Beto! Um abraço!
Roberto Ceconello é o feliz proprietário!
Indaiatuba - SP.