Um dos maiores achados desse blog estava muito próximo a mim e eu não sabia. Demorei a acreditar quando eu vi essa obra de arte diante de meus olhos:
Bem, fica difícil até de começar, tamanha é a história que esse clássico carrega. Revolucionário e muito a frente do seu tempo, foi apresentado no Salão de Genebra no ano de 1970. Por que revolucionário? Não precisa nem entender muito do assunto prá chegar à conclusão de que suas linhas transpiram personalidade.
A traseira evidenciava a notável preocupação aerodinâmica: coeficiente aerodinâmico recorde prá um carro produzido em série
Além de ter herdado o desenho da carroceria, veio prá aprimorar o já revolucionário Citroën DS, lançado em 1955. A ideia era criar uma versão luxuosa e esportiva dele, daí veio o "SM" (Systeme Maserati). A suspensão era praticamente a mesma usada no DS, porém mais refinada, para eliminar seus pontos fracos; os freios também eram similares, apesar de o SM possuir disco nas quatro rodas; a tração dianteira foi mantida, bem como o sistema hidráulico central de alta pressão, que controla suspensão, freios, transmissão, faróis e direção.
Já era uma característica fundamental dos Citroën a suspensão hidropneumática e não era surpresa que ela equipasse também o SM. Estava sempre nivelada, em qualquer que fosse o terreno, transportando a carga que fosse. Eram três níveis de altura, conforme a situação exigisse. A suspensão baixava ao estacionar. Bastava girar a chave e, trinta segundos depois, lá estava a suspensão na sua posição normal.
Recorde de frenagem em todas as categorias em sua época, devido aos freios hidráulicos de canal duplo e discos inboard, de montagem interna. Além disso, tornou-se o carro de tração dianteira mais rápido do mundo, chegando a atingir 235 Km/h em testes (220 Km/h declarados pela montadora).
Detalhe dos pedais
A transmissão era seu aspecto mais convencional. A maioria tinha caixa manual de 5 marchas, com embreagem comum. Mais tarde, foi disponibilizada uma caixa automática de 3 marchas Borg-Warner. (Nessa versão, sua potência aumentava em mais de 15 cv e sua cilindrada passava a 3.0 L).
Câmbio manual de 5 velocidades; botões de acionamento dos vidros elétricos
Era um carro tecnologicamente impressionante, prá sua época. Foi o primeiro automóvel do mundo a ter direção hidráulica com assistência variável, que ficou conhecido como "VariPower" ou "SpeedFeel". Esse sistema era tão complexo que bastava o volante dar apenas uma volta prá ir de um batente a outro. Além disso, contava com o mecanismo de autocentralização: se girar o volante com o motor ligado, a direção retorna sozinha prá posição central. Com o motor desligado, era impossível virá-lo. Um novo sistema, variável conforme a velocidade, reduz a assistência em velocidades altas.
Os faróis, também controlados pelo mesmo sistema hidráulico, ainda hoje são novidade. Por trás de uma espécie de lente protetora, estão seis refletores. O par de quadrados menores, que fica nas extremidades internas, acompanha o movimento do volante (o que até hoje é novidade nos comerciais dos C4!). Reparem que a placa é afixada também dentro dessa "bolha". Como o mesmo sistema controla também a suspensão, a altura do facho de luz era regulada automaticamente de acordo com o peso na traseira.
Adesivo remete a seu país de origem: a França
Reparem nos seis faróis e na grade, posicionada abaixo do parachoque
Detalhe do recorte que proporciona ventilação: logo Citroën, motor Maserati
O interior segue o estilo externo, lindo. Volante de um raio só com ajustes de altura e profundidade. O painel de instrumentos por trás dele conta com velocímetro, conta-giros, termômetro de água, amperímetro, nível do tanque e relógio. Havia ainda um sistema de verificação e controle, que alertava sobre o nível dos fluidos, lâmpadas queimadas e pastilhas de freio gastas. De série, vidros elétricos, ar condicionado e rádio. No banco traseiro, apoio central de braço.
O volante de um raio só e o moderno painel
Fácil visibilidade do painel de instrumentos: um dos benefícios propostos pelo desenho do volante, de um só raio
Detalhe do banco traseiro, com cintos de três pontos e apoio central para braço
Ufa! Depois desse papo todo sobre a impressionante aparência estética...
Seu motor foi desenvolvido em parceria mítica com a Maserati, era um V6 derivado de um V8 da marca italiana, de pouco mais de 2.6 L, que produzem 172 cv com três carburadores Weber de corpo duplo. O propulsor Maserati V8 teve de "perder" dois de seus cilindros porque deveria ficar pronto em somente seis meses e precisava ser extremamente compacto e leve e não poderia ter cilindrada superior a 2.8 L. Esse era o limite imposto pela tributação francesa que tornaria o carro caro demais, mesmo para um modelo de luxo.
Reparem nas "bolas verdes": as importantíssimas esferas hidropneumáticas
Detalhe do logo Maserati
No âmbito cinematográfico, já participou de um sequestro do personagem de
Ben Stiller no filme "
Zoolander" (2001) e de
Charles Bronson em "
Breakout" (1975). Teve participação no clipe "
I get lonely", de
Janet Jackson. Na "vida real", já teve proprietários como o jogador holandês
Johann Cruyff,
o ator
Lee Majors e o escritor inglês
Graham Greene. Idi Amin, presidente de Uganda entre 1971 e 1979, possuía nada mais que sete! Prá finalizar, o comediante
Jay Leno ainda hoje possui em sua coleção um SM 1972.
Foram produzidas, ao todo, 12.920 unidades, das quais 2.492 destinadas à exportação prás Américas, todas elas especificamente para o mercado norte-americano. Só que essas tiveram seu desenho um pouco alterado, tirando parte do seu charme e elegância. Não contavam com seus seis faróis, por exemplo, pois eram contra a lei nos Estados Unidos.
A respeito do exemplar flagrado, como se já não bastasse tudo isso, pouquíssimas unidades (estima-se apenas 10) vieram ao Brasil. Dessas, um número ainda menor tem o paradeiro conhecido. Até onde se sabe, há registros de 3 (três) no Brasil: dois no Rio de Janeiro e um em São Paulo. Certa vez, postei no blog um flagra em um evento em Niterói - RJ, de um
SM 1972, também. Apesar da placa também ser de Niterói, não são o mesmo carro. Na foto não dá prá ver legal, mas o outro é prata. Esse, dourado. Portanto, é bem capaz que sejam os dois únicos no estado do Rio! E olha que eu disse no outro post "Sinceramente, nunca me deparei com um desse na rua"! Agora eu sei o porquê, e estou satisfeito por nunca mais poder dizer isso! :)
Ilha do Governador, Rio de Janeiro - RJ.