Agora para tudo, porque essa foi uma das cenas mais apoteóticas desde que eu comecei a fotografar os carros que eu ia vendo pela rua:
Nesses quinze anos fotografando e escrevendo aqui, poucas foram as vezes que um carro passando foi tão maravilhoso. Eu já tinha visto a picape na oficina, no mês anterior. Já fiquei surpreso, porque desconhecia um carro desse na região. Mas ver rodando na rua é outra história, é seu hábitat natural. Só que foi tudo tão rápido, e ainda estava de noite, que eu só acompanhei com a cabeça, boquiaberto enquanto era transportado pra segunda metade dos anos cinquenta. Logo que recobrei minha consciência, resolvi apertar ao máximo meu passo, e tentar adivinhar onde seria sua próxima parada.
Andei até o posto mais próximo, olhei tudo e nada da Ranchero; fui até o segundo posto e nada também; comecei a caminhar na direção que eu achei mais provável, e foi quando ele passou por mim mais uma vez, mais rápido que antes, no sentido contrário ao meu; dessa vez, não hesitei e em vez de apertar o passo, comecei a correr mesmo. Pra minha felicidade, vi ele entrando no posto, e pensei que daria pra alcançar. Quando cheguei, tirei as fotos e ainda troquei uma ideia com o dono do carro, que voltava da conveniência com sacolas.
Não me contive e pedi que desse uma volta no quarteirão e me largasse em qualquer lugar, só pra eu passar pela experiência. Andamos mais do que um quarteirão, e a sensação é de fato exatamente o que eu imaginava. Tudo original, inclusive o motor seis-cilindros, tudo perfeito. E ainda tem uma hula-hula dançante no painel.
Trocamos contatos, fiz um amigo novo e acumulei mais uma experiência memorável. Simples, eu sei. Mas é a minha época preferida, e eu sequer vivi esses carros na rua. Já tive o prazer de andar em tantos outros carros dessa mesma época, e é sempre fantástico.
Ilha do Governador, Rio de Janeiro - RJ.
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