Este é o tipo de publicação que eu gosto ainda mais de fazer, porque envolve parte da história deste lugar onde eu nasci, fui criado e moro até hoje, pelo qual eu tenho muito apreço e apego.
Quem vive ou viveu há muitos anos por aqui, ou já se interessou minimamente pela formação do local ao longo dos anos, conhece ou já ouviu falar no tradicional edifício "Sobre as Ondas". Situado à Praia da Olaria, nº 2, no Cocotá, o prédio foi construído nos anos 1960, sobre pilotis, e parte da garagem era destinada à atracação de embarcações. Essa era a sua característica mais distinta, e que o tornou tão famoso para o público local.
Aquela região era uma das mais valorizadas da Ilha. Luiz Gonzaga morou nos arredores, na R. Pereira Alves 255, se apaixonou e fez até uma música, "Cocotá", que é o nome do bairro. Portanto, morar naquele prédio diferenciado, com aquela vista maravilhosa, era um símbolo de status. Era muito comum as famílias descerem na garagem e entrarem na lancha pra fazer passeios às ilhas de Paquetá e Jurubaíba. Outro relato comum era de alguns moradores que pescavam ou pulavam na água, direto da janela do apartamento, em dia de maré alta.
Um dos maiores jornalistas automotivos que já tivemos, Marcus Zamponi, o "Zampa", amado por todos e que infelizmente nos deixou em 2013, foi um ilustre morador desse prédio, juntamente com seu Mustang verde; o percussionista Chico Batera, que trabalha com Chico Buarque e já gravou com nomes como Elis Regina, Tom Jobim, Ella Fitzgerald e Frank Sinatra, também residiu no famigerado edifício.
Mas aí, em 1965, se iniciou um novo projeto de urbanização que previa o aterro de parte da orla, que em 1968, o espaço continuou sendo aterrado por outras razões, mediante promessa de que se tornaria futuramente uma área de lazer, o que acabou de fato ocorrendo. Com isso, o "Edifício Sobre as Ondas" perdeu seu principal atrativo e característica mais peculiar, e o que ficou foi só a história pra contar, além da bela edificação, bem construída e com uma linda vista.
Eu, particularmente, sempre tive vontade de conhecer, mas nunca tinha tido oportunidade. Caminhando por lá, deu pra ver melhor que tinha um Fusca até 70 bem original na garagem, dei algumas voltas e senti aquela vontade de entrar. Esperei que um morador se aproximasse da portaria, me apresentei, me identifiquei, contei sobre meu interesse e pedi que me mostrasse rapidamente alguma coisa. Fizemos um pequeno tour ali por baixo, desci até a garagem, onde ele me mostrou que ainda tinha na parede alguns ganchos onde as embarcações atracavam. Claro que fiz o registro da visita, e não perdi a oportunidade de fotografar o Fusquinha também (engraçado que naquele mesmo dia, bem perto dali, eu tinha acabado de ver outro Fusca 68 branco):
A impressão é de que ele parou no tempo. Praticamente tudo original, com faróis "Tremendão", rádio toca-fitas, placas cinzas da época em que foram colocadas no lugar da amarela, e sem nenhuma intervenção significativa ou modernização despropositada. Só algumas peças desmontadas, como retrovisor externo e forração de porta. Diria que é muito provável que tenha rodado como carro de uso normal até parar pra descansar aí, diria que uns quinze anos atrás. Adoraria muito ver esse carro voltar a rodar! E espero também ter a oportunidade de visitar alguma dessas unidades, pra ver como são por dentro, como é a vista, e tentar imaginar a sensação que se tinha em outras épocas. Vida longa o Edifício Sobre as Ondas!
Abaixo, fotos antigas. A primeira mostra o prédio antes do aterramento:
Ilha do Governador, Rio de Janeiro - RJ.
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