Na virada do século XIX pro XX, o saneamento básico e os estudos e o conhecimento sobre epidemias ainda não tinham desenvolvido o suficiente. Nessa época (1893), foi criado o "Desinfectório Central" na cidade de São Paulo/SP, para centralizar as funções de serviço sanitário, mais especificamente as ações de combate a epidemias e pragas que preocupavam a sociedade (como a peste bubônica, a varíola e a febre amarela), encaminhamento de pacientes a hospitais de isolamento, e remoção de cadáveres de pessoas vitimadas por doenças infecto-contagiosas.
Nos anos 1960 o sistema estadual de saúde passou por uma reforma, que estabeleceu no final da década uma descentralização administrativa e consequente reestruturação dos serviços de saúde pública. O prédio, que era o centro dessas atividades, perdeu boa parte de suas funções. Isso levou a discussões pela criação de um museu de saúde pública e homenagem ao antigo e importante diretor do Serviço Sanitário do Estado, Dr. Emílio Ribas. Posteriormente às devidas tratativas, em 1979, aquele mesmo edifício deu lugar ao Museu de Saúde Pública Emílio Ribas. Seis anos depois (1985), foi tombado como patrimônio histórico paulista. Desde sua concepção, tornou-se um dos mais importantes acervos documentais da saúde brasileira, com registros desde o século retrasado até os mais recentes. Em 2010 passou a ser administrado pelo Instituto Butantan, e atualmente encontra-se fechado para reforma. É possível, no entanto, fazer consultas e pesquisas do material mediante agendamento prévio por e-mail.
É nessa parte do acervo que o assunto converge com o tema central deste blog. Em meio a fotos antigas, documentos, equipamentos, mobília e trajes usados pelos profissionais, também fazem parte três viaturas, sendo duas jardineiras (espécie de ônibus antigos) e um caminhão, que foram originalmente usadas nos serviços do Desinfectório Central, e posteriormente - já na condição de carros antigos - em desfiles cívicos e campanhas de vacinação, de modo a despertar a curiosidade e o interesse da população.
Das três viaturas, a marca de uma delas ainda está em atividade e é conhecida da maioria, a Fiat; a Republic era norte-americana e chegou a ser a maior fabricante exclusivamente de caminhões do mundo, em 1918, mas fechou as portas em 1928, quando de sua fusão com a American LaFrance, passando a LaFrance-Republic; a SPA ("Società Piemontese Automobili") foi uma fabricante italiana de automóveis, veículos militares e motores de aeronaves fundada em 1906 e, por sérios problemas financeiros, foi incorporada pela Fiat em 1925. A partir daí, focou em veículos comerciais e militares, tendo sido posteriormente o maior fornecedor de caminhões e utilitários ao exército italiano na Segunda Guerra Mundial.
Como curiosidade, o recorte de jornal a seguir mostra 1365 automóveis, caminhões e ônibus, separados por marcas, que circulavam na cidade de São Paulo em junho de 1913. Reparem que a marca SPA aparece figurada entre as marcas, com 55 exemplares:
Achei relevante a "pincelada" histórica para trazer um pano de fundo sobre a montadora, hoje conhecida por pouquíssimas pessoas, bem como pra fazer essa associação com o tema de saúde pública, em plena evidência atualmente, uma vez que vivemos uma das maiores pandemias da História.
Sobre o flagra da vez, não há nada concreto que tenha sido dessa mesma frota, mas também não está totalmente descartado, já que em algum momento foi registrada em São Paulo/SP. A combinação de cores verde/preto é semelhante, e foi muito comum em caminhões por muito tempo. Durante o tempo em que essa jardineira de dois andares ficou guardada em um estacionamento de razoável circulação no Rio, chamava bastante a atenção, tanto pela sua idade quanto por suas dimensões e peculiaridades:
Muitos detalhes que lembram mais uma residência que um carro, muita madeira, "escada caracol", características muito comuns aos automóveis contemporâneos seus. Salvo engano já pertenceu ao colecionador Francesco Caffarelli e estava à venda na época das fotos por R$130.000. Não sei pra onde foi ou que fim levou, mas imagino que tenha ido compor alguma coleção importante, dada a particularidade e certa exclusividade da peça.
São Cristóvão, Rio de Janeiro - RJ.
Pra concluir, aproveito o ensejo pra recomendar aos amigos leitores, em época de crise sanitária, que se vacinem assim que puderem, com a vacina que estiver disponível no posto. Quem puder trabalhar de casa, que evite ao máximo sair na rua; quem tiver que ir à rua trabalhar, ir ao supermercado, farmácia ou outra necessidade, que tome todos os cuidados, usando máscara sempre, mantendo as mãos lavadas, evitando levá-las ao rosto, e permanecendo com esses cuidados, mesmo após tomar as duas doses da vacina, até que 70% da população esteja imunizada. Somente com a contribuição e adesão de todos aos protocolos de saúde será possível vencermos esse momento. Por favor não deem ouvidos aos desvarios negacionistas que têm sido propagados principalmente a partir do indivíduo que ocupa cargo público máximo do nosso país, e reiterados por seus apoiadores. Muito cuidado e atenção nas próximas eleições, que assim superaremos esse "soluço" histórico! #forabolsonaro
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